segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RUY CÂMARA - AUTOR DO MÊS!!!

ENCANTE-SE! O autor desse mês não é apenas digno de prêmios, mas um exemplo da busca de um sonho.
A vida de Ruy Camara começou a mudar quando, em 1992, reuniu os amigos para comemorar o aniversário de 38 anos de idade e avisou que tomaria novos rumos. Abriria mão da carreira empresarial promissora para escrever.
Depois de onze anos, seu esforço foi recompensado. Nascia "Contos de outono". Livro que já nasceu para brilhar, sendo um dos finalistas do Prêmio Jabuti. Ruy coleciona prêmios fora do Brasil e seu livro já está sendo traduzido para vários idiomas.
Como foi largar tudo para ser escritor?
Não foi fácil, sobretudo porque aos 38 anos eu já tinha 4 filhos para criar. Mas desde a infância sempre alimentei o sonho de me tornar escritor. Contudo, esse sonho tardou a se cumprir porque eu precisava ter a garantia de que não iria sofrer ou condenar minha família às privações. Dizia-se que é inviável viver de literatura. Assustava.
Comecei a me preparar. Aos 24 anos pedi demissão de uma multinacional e montei uma fabriqueta de confecções. No ano seguinte abri uma agência de exportação e uma empresa de representações e me dediquei de corpo e alma aos negócios.
Aos 30 já havia me consolidado economicamente e comecei a me preparar para tomar a grande decisão. Mas eu não conseguia convencer a ninguém que eu tinha vocação para as letras e muito menos que tinha algum talento. Quantas vezes me chamaram de louco? Havia uma grande resistência.
Mas como tudo na vida decorre das circunstâncias, em 91 ocorreu uma tragédia na minha família, que vitimou minha filha, Lia Câmara e então tudo mudou. Naquele momento minha vida perdeu completamente o encanto. Desci aos infernos quando vi, em 92, meus negócios definhando em função da crise econômica. Vendi minhas empresas (tinha uns 500 funcionários) e com o pouco que sobrou, investi e decidi que era o momento para realizar o meu antigo sonho.
Transformei um casarão numa biblioteca e ali permaneci ao longo de 11 anos, lendo e escrevendo.
Por que escreveu este livro?
Escolhi o tema ou foi o tema me escolheu? Em 94 o poeta José Alcides Pinto, foi ao Rio de Janeiro e subtraiu da biblioteca do bibliófilo, José Bonifácio Câmara um faxsímile "d’Os Cantos de Maldoror" e o enviou-me juntamente com um bilhete no qual dizia: “Querido Ruy, cometi um delito imperdoável na biblioteca de um amigo para compartilhar contigo o banquete literário de Lautréamont.” Foi assim que tudo começou.
O livro é sobre...
A história misteriosa e sombria de Isidore Ducasse, o Conde de Lautréamont, considerado como o autor do livro mais radical e estranho da literatura universal.
Aos 2 anos ele testemunhou o suicídio de sua mãe, na noite natalina de 1847 em Montevidéu. Aos 13 anos, devido às pestes e guerras no Uruguai, o menino é empurrado num navio pelo chanceler interino do consulado geral da França em Montevidéu, François Ducasse, seu pai, para ser educado no sul da França, onde sofre crises de angústias terríveis e os rigores dos pedófilos nas prisões escolares de Tarbes e Pau.
Aos 18 anos adota para si o pseudônimo “Conde de Lautréamont” e vai aventurar-se no mundo das letras em Paris e Bruxelas. Rejeitado pelos editores e decepcionado com o paroquialismo literário europeu, o jovem escritor, precursor do surrealismo e discípulo de Baudelaire, abandona os estudos formais e passa viver às expensas do pai, uma vida pomposa em Paris, sendo hóspede do hotel Verdun, no Cais d’Anjou, 17.
Encontrou algum ponto negativo em escrever sobre este assunto?
Pensei em desistir. Reinventar Lautréamont, o astro negro da literatura, discípulo de Baudelaire e precurssor do surrealismo, exigiu-me tempo, desprendimento e muito esforço intelectual.
"Cantos de Outono" é o final de um percurso que jamais ousarei repetir. No início eu acreditava que havia material para uma biografia fidedigna, mas logo descobri o contrário. Após 3 anos de investigação, abortei o projeto, supondo que estava diante de um enigma indesvelável.
Vi-me envolvido numa armadilha real. Já havia consumido boa parte das minhas finanças e não conseguia vislumbrar uma solução.
Quando sentei para escrever o romance, experimentei na própria carne um sofrimento quase expiatório. Dias ou mesmo semanas numa página que não se resolvia.
Em Paris vivenciei os momentos que precederam o suicídio de Lautréamont. Era madrugada. Chovia intensamente. Eu estava completamente esgotado para escrever o epílogo quando tive a estranha sensação de que o gênio de Lautréamont transitava livremente nas zonas de intransitividade dos meus sentidos. O que ocorreu ali, aos parâmetros da razão, parece surreal, mas aos parâmetros da arte, tudo é possível. Consegui, finalmente, levá-lo ao calvário e finalizei o livro.
Hoje, decorridos 18 anos da minha decisão, sei que reinventei Lautréamont como se buscasse uma síntese própria de compreensão para justificar a maior estupidez humana: o suicídio. E o faço pensando nos indivíduos que como eu, um dia também se viram oprimidos pelos desígnios, pela família ou pela sociedade.
Para que tipo de leitor indica este livro?
Para qualquer pessoa habituada à leitura. O grande público do livro é juvenil. Os jovens adoram Lautréamont, pela estranheza, pela rebeldia, pela genialidade e pela solidão do seu espírito. Recentemente um grupo de jovens leitores me fez ver na web que que o nosso personagem vem influenciado grupos e formando fã-clubes de jovens e adultos nas areas da música, vídeos, literatura, teatro, etc. Eu creio que são poucos os personagem de obra literária tão citado e tão difundido na Web quanto Lautréamont.

11 comentários:

Fernanda disse...

Excelente entrevista!

Anônimo disse...

Uau!!!!!!!!! Adorei a entrevista e ter a chance de conhecer um pouquinho desse autor. Ainda não conhecia e já me aguçou a curiosidade de ler esse livro. A vida desse autor por si só, já dava um romance pelo que pude ver.
Abraço,

Sonhos melodias disse...

Oi, a anônima de cima sou eu, bati na tecla errada, kkk.
Abraço,

Depois dos 25, mas antes do 40! disse...

Só de saber a história dele fiquei curiosa. Assim como a anônima uqe não é anônima, rs, também fiquei com vontade de saber mais sobre a vida do autor! rs

Beijos

Anônimo disse...

Já tinha ouvido falar do livro através da minha filha. Confesso que fiquei curiosa com a vida do autor também.

Abs,

Miriam Machado

Dalva Nascimento disse...

Valeu pela entrevista. Além de conhecer o novo autor, também despertou o interesse pela leitura do livro.

Bjs.

Pedrita disse...

fiquei curiosa, anotado. beijos, pedrita

Kuriozza disse...

O livro é um encanto, muito emocionante e envolvente.

Ótima entrevista!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Flavia, parabéns pela entrevista. Adorei!

Nao conhecia o autor e achei fantástico conhecer toda a trajetória ou parte dela na verdadeira entrevista. Gosto de pessoas assim, sem medo de dizer que o caminho foi mesmo difícil. Muita gente sorrir e nao conta mesmo o quanto a pessoa tem mesmo que suar a camisa se quer realizar o seu sonho.
Embora, o despertamento dele tenha vindo com a perda da filha, por causa da grande dor que sofreu, acredito que ele tenha cogitado o quanto a vida é como uma fumaca e porque nao correr atrás daquilo que mais desejava o seu coracao.

Adorei a dica e certamente vou dar um jeitinho desse livro chegar aqui para o meu lado.

Obrigada pela entrevista aqui no nosso blog e sucesso com o livro.

Abracos

Anônimo disse...

RUY CAMARA O AUTOR DO MÊS TAMBEM FOI VICE PRESIDENTE DO PARTIDO POLÍTICO "DEM" DO CEARÁ. E A ÚNICA COISA QUE ELE SABE ESCREVER É FALAR MAL DO LULA (MENTIRAS).
MENTIRAS COMO É A SUA VIDA........

ruy camara disse...

Tenho o prazer de indicar para essa moçada leitora o novo link para o meu website:
www.ruycamara.com.br

Um abraço amigo para todos vocês.

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